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QUEM GOSTA DE CALOR?

Thermus aquaticus é uma bactéria que gosta do calor. Encontrada nas fontes termais de Yellowston, ela ajudou a estabelecer um novo limite para os extremos que a vida suporta. E anos mais tarde teve a oportunidade de protagonizar uma das técnicas mais utilizadas da biologia molecular: PCR.

Quer saber como essa história aconteceu? Segue comigo!


Yellowstone está entre os atrativos mais visitados do mundo. É um fenômeno natural tão interessante que se este supervulcão entrasse em erupção hoje (e ele é imprevisível) é provável que boa parte do continente americano ficaria inabitável. As fontes termais que lá são abrigadas evocam diariamente jatos de água para superfície que podem chegar até a 90 °C. Em boa consciência, quem conseguiria se estabelecer como um ser vivo em uma temperatura dessas?


“Definitivamente vivas” – dizia o caderno de campo de Thomas Brock quando ele, ainda na década de 60, descobriu as bactérias termófilas - Thermus aquaticus - que plenamente completa seu ciclo de vida nessas condições extremas. Termófila vem do grego, quer dizer “amor ao calor”, mais do que apreciar um bom verão, essa descoberta de Brocks estabeleceu um novo limite de como conhecemos a vida. Até qual limite de temperatura um organismo pode aguentar?


Apesar de interessante, a descoberta das Thermus termófilas virou peça do grande museu da vida por muitos anos. “Algumas pessoas pensaram ser inútil, porque não se concentrava em propósitos práticos (...) e perguntavam: para que servirão as bactérias das fontes térmicas de Yellowstone” — relatou o mesmo Brock. Durante essa época, ele seguiu sua perspicácia científica. Insistiu nos estudos. E não sabia como estava certo...


Pois, na década de 1980 entrou em cena Kary Mullis, revolucionando como se estuda o DNA através de um método rápido de multiplicação: PCR. A amplificação do DNA pela técnica de PCR é realizada através da utilização de enzimas polimerases após o reconhecimento de primers específicos para determinada região gênica. A grande limitação era que a abertura do DNA, que dentro de uma célula ocorre por ação enzimática, em um sistema in vitro só poderia ser realizado através da aplicação de uma temperatura bem alta. Onde encontrar essa polimerase que resiste a altas temperaturas sem desnaturar?


E é aí que as histórias de Thomas Brock e Kary Mullis se cruzam em um dos crossover mais inusitados da ciência, saindo da posição de “artefato de museu” para protagonistas dos laboratórios de genética, Thermus aquaticus possuía exatamente a enzima necessária para tornar mais fácil, ágil, barata e precisa a técnica de PCR... e o resto virou história.


“Não imaginava isso nem em um milhão de anos” – dizia Brock.

Mas não foi preciso nem vinte verões, meu querido amante do calor!

por Ricardo Bianchetti




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