DNA: UMA BIOGRAFIA
por Ricardo Bianchetti
Em 1953 a estrutura do DNA era apresentada para todo o mundo em seu formato de dupla hélice. A descoberta que revolucionou de vez o conceito da genética tem, no entanto, uma biografia bem mais rica por trás.
Várias das maiores descobertas realizadas ocorreram quando a comunidade científica inteira se encontrava em uma acelerada corrida para conseguir chegar às soluções que eram de interesse da sociedade em forma global. Lá nas décadas de 40 e 50 a disputa da vez era para saber quem levaria os créditos por decifrar a estrutura do DNA.
Apesar do mundo todo apostar no vencedor do prêmio Nobel de química Linus Pauling para tal função, seu hipotético modelo de tripla hélice ficou para trás quando os jovens Watson e Crick levaram a público a estrutura de hélice dupla fita. Mas, como toda boa biografia, a história do DNA é cheia de ‘nuances’, obscuridades, insights e traições. A vitória da corrida que estabelecia as bases bioquímicas que definia a maioria de nossas características começou bem antes do ano de 1953.
Porque características era algo que Gregor Mendel notava bem de longe, fazendo nossa história começar lá em 1865... Mendel fazia um trabalho de paciência analisando suas ervilhas. Notou que as características que definiam suas plantas eram hereditárias. Tanto a base molecular dessas características (ou fenótipo, como chamamos os biólogos), quanto o próprio trabalho de Mendel foram um mistério por anos. Ignorado, morreu sem nenhum reconhecimento. E como um escândalo bem guardado, foi redescoberto quase 50 anos depois, de forma independente por Hugo de Vries, Carl Correns e Erich Tschermak-Seysenegg. E então as coisas começaram a acelerar.
Boyer crava o termo “gene”, Morgan propõe que os genes são interligados dentro da célula e visualiza que eles podem sofrer mutação, deixando para Müller elaborar métodos para induzir essas mutações em alta velocidade. Essas descobertas em comum nada mais faziam que corroborar as conclusões que outro baita cara legal chamado Charles Darwin propôs anos antes, escandalizando todo o mundo. O que deixava para Griffith a função de mostrar que esse tal de gene, está é no DNA.
Mas muito bem. O que é o DNA, que assim como a fé ou o amor, mostrava-se abstrato? Até 1952... Rosalind Franklin entra em cena. Consegue uma selfie perfeita do DNA - a famosa Fotografia 51. E o que acontece em seguida é um dos episódios mais nebulosos da ciência. Em 1953, Watson e Crick visitam Wilkins. Wilkins entra na sala de Franklin sem permissão e mostra a fotografia 51 para os dois cientistas. Abalam a estrutura. O DNA estava lá. Ambos rapidamente fazem o modelo e levam ao público, mudando para sempre a história da genética e da humanidade em um artigo reconhecido com um prêmio Nobel. Tudo perfeito. Exceto para Rosalind, que sabe lá por qual motivo ficou de fora desse trabalho. E tudo isso para mostrar que precisou é de décadas de trabalho para deixar o ano de 1953 possível.
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