Caenorhabditis elegans é uma lombriga que virou modelo de estudos genéticos, ajudou a explicar o desenvolvimento humano e resultou em seis prêmios Nobel para cientistas que o utilizaram em suas descobertas. Entenda aqui como um verme virou uma celebridade no mundo acadêmico.
“Acontece que o verme e os humanos são muito semelhantes em sua biologia básica” Gordon Lithgow.
Corpo cilíndrico, alongado e sem apêndices. Um milímetro de comprimento, transparente e vivem em solo úmido e oxigenado. Descobertos em 1900, ficaram quietos em seu ambiente até a década de 60. O que C. elegans não fazia ideia é que todas suas características em conjunto seriam tão decisivas para avançar tanto nos estudos da genética. Quem fazia ideia foi Sydney Brenner, que o alçou de vez ao estrelato.
C. elegans são promíscuos: fáceis e baratos de cultivar em laboratório. C. elegans são férteis: cada indivíduo coloca centenas de ovos. C. elegans não são vaidosos: estrutura corporal transparente permite observar em microscópio qualquer efeito genético em suas características. C. elegans são simplórios: genética simples, poucos genes, fáceis de induzir mutações. C. elegans não são apegados: em 2 semanas passam por todas as etapas de seu ciclo de vida, possibilitando o estudo em qualquer fase do desenvolvimento em pouco tempo. Não é à toa que caíram tanto nas graças dos cientistas.
E através deles foi possível descobrir tanto sobre o desenvolvimento animal: o que a mutação em cada gene faria com suas características? ou como o padrão inicial de divisão celular e posicionamento das células produzem os diferentes tecidos do ser vivo adulto? – que se parece muito com a embriologia humana - Através desses seres minúsculos e fantásticos se descobriu padrões de expressão diferencial e silenciamento de genes. O estudo da morte da célula programada pelo próprio organismo. Além de todo avanço na fisiologia do envelhecimento e na neurobiologia.
“Um sistema mais simples para conclusões mais complexas”. Geralmente é a premissa da ciência quando embarca em utilização de organismos modelos. Para C. elegans isso foi levado tão longe que, antes do genoma humano ser totalmente sequenciado, o verme nematoide foi utilizado para testar, calibrar e aperfeiçoar a tecnologia, garantindo ao nosso herói a honra de ter sido o primeiro organismo multicelular a ter o genoma completamente sequenciado.
Com o século XXI e o futuro cada vez mais presente, C. elegans também teve a oportunidade de servir como modelo para organismo animal em ambientes extremos: pegaram carona em um ônibus espacial e foram para fora da Terra. É um senhor verme elegante que em sua simplicidade, serve muito para todos nós. A Biologia está nos detalhes! E para C. elegans, isso é perfeitamente possível de ser compreendido.