“A natureza não faz nada bruscamente.“
Jean-Baptiste Lamarck, livro Philosophie Zoologique, 1809
O que é epigenética?
Epigenética é a ciência que busca compreender como dois genes idênticos podem resultar em características diferentes entre indivíduos. Essa ciência estuda alterações na cromatina que levam a diferentes fenótipos sem alteração na sequência de DNA. Mas como assim?
O DNA de eucariontes está localizado no núcleo da célula associado à diversas proteínas, entre elas uma família chamada histona! E as histonas, sem dó, fazem o enovelamento de parte do DNA, criando regiões que não são acessíveis à maquinaria transcricional - a heterocromatina – mas quando decidem ficar de boa, afrouxam a prisão e deixam a dupla fita da nossa molécula livre – a eucromatina.
Acontece que nosso DNA tem seus meios de fazer o próprio carnaval, enamorados de seus fatores de transcrição, ele conta com ajuda de proteínas que querem ver o circo pegar fogo. Elas que colocam um grupo acetil logo na Histona 3, que travada, é obriga a recuar e liberar nosso herói para um belo dia no vale da eucromatina. Mas nem tudo são flores para o DNA, mesmo sedento para contar para a célula qual é a proteína da vez, inesperadas metilações em suas citocinas podem impedir que a fofoca saia do núcleo em forma de RNA.
A metilação também não altera a estrutura do DNA, mas fornece uma bela barreira física, e Voila, gene silenciado! Mas quem vigia os vigilantes? Quem determina se as marcas epigenéticas como a metilação do DNA ou a desacetilação da Histona 3 vão atuar para reprimir a expressão gênica? São diversos fatores que causam as modificações epigenéticas, mas muitos deles relacionados ao ambiente: variação na temperatura, umidade, exposição à substâncias tóxicas, ataque de parasitas... tudo isso determinando como um mesmo gene pode se comportar de forma tão diferente, apenas levando em consideração o padrão epigenético.
Mas a ironia mais deliciosa do destino é quando percebemos que as marcas epigenética, essas mesmas que podem ser controladas pelo ambiente, tem grande potencial de serem hereditárias. Passam para a próxima geração.
E é aí que Lamarck se vinga de todos que fizeram tão pouco da sua hipótese de que características recebidas pelo ambiente podem ser hereditárias. Não! Ele não sonhou com a palavra epigenética, tão pouco chegou perto dessa teoria, mas seja onde estiver, deve estar dando uma gostosa gargalhada no momento. Por mim tudo bem! Um pouco de bom humor não faz mal a ninguém. Quem sabe até ajuda na festa da epigenética dentro das nossas células?